TEMA IV
A REGULAÇÃO DOS SISTEMAS EDUCATIVOS
A REGULAÇÃO DOS SISTEMAS EDUCATIVOS
O conceito de regulação assume várias
interpretações destacando-se as definições de Regulação Transnacional, Nacional,
Micro-Regulação local, Regulação Burocrática-profissional, pelo mercado
e comunitária. (Barroso, 2003, citado em Barroso, 2005)
Caraterização segundo Barroso (2005):
Regulação Transnacional - conjunto de normas, discursos, instrumentos que sustentam
os fóruns de decisão e consultas internacionais, adotados pelos políticos aquando da tomada de decisões
para o funcionamento do sistema educativo (geral), neste caso o europeu.
A regulação nacional - é o modo como cada Estado coordena e controla o sistema
educativo, orientando-o sob normas.
A micro-regulação local, obedece a ordens emanadas da tutela aplicando-as
localmente, resultando no processo de coordenação da ação dos seus
intervenientes: pais, alunos, professores, funcionários, gestores e
administradores escolares.
A regulação burocrático-profissional - exerce-se como uma política de compromisso entre o Estado
e os professores, minimizando a influência das famílias e dos alunos.
A regulação pelo mercado – opera-se através da influência das famílias no controlo
da oferta educativa, através dos processos de seleção da escola e da sua
participação na gestão.
A regulação comunitária - esta regulação toma forma através da parceria entre
professores e encarregados de educação, nomeadamente na criação de territórios
educativos de intervenção prioritária, condições de segurança da escola,
abertura ou encerramento de escolas.

Deste modo, o conceito de regulação do sistema educativo assume
o caráter de orientador, controlador e mediador do trabalho que se desenvolve
nas escolas, reforçando a sua qualidade enquanto ensino prestado às
comunidades. O conceito de regulação parece surgir da necessidade de
operacionalizar objetivos, metas e linhas orientadoras e de medir,
subsequentemente os seus efeitos e resultados.

A ideia aqui é a de uniformizar as nossas orientações,
preocupações e ansiedades enquanto Estados membros da Europa do Conhecimento. Tendo
em conta a “revolução mundial” de mentalidades, posturas e perspetivas imparável
a todos os instantes tornou-se premente estabelecer objetivos comuns aos vinte
e sete estados de uma Europa em muitos aspetos constituída por diferenças abismais,
nomeadamente em relação à educação e à organização dos sitemas educativos vigentes.
“A ausência de pressupostos comuns sobre o
conteúdo da Educação e sobre o que torna os sistemas eficazes abriu a porta à
criação de ferramentas de avaliação, o que permitiu que o que poderia ser visto
como o problema da diversidade dos sistemas educativos europeus pudesse ser
convertido numa oportunidade para a criação da base de um Espaço Europeu de
Educação.(1)”
Já Dale (2) descreve esta “diferença
dentro da união”como, falta de consensualidade entre os diferentes sistemas
educativos e dificuldade em operacionalizar o pretendido”. Ora, o pretendido
remonta à Estratégia de Lisboa em 2000. Parece-nos que já em 2000 estas
marcadas diferenças e irregularidades entre os estados não foram devidamente
tomadas em conta, adaptando-se aos objetivos definidos. Se bem que poderemos
todos correr a velocidades diferentes, não será justo comparar timings ou
qualidade à chegada se a partida foi reconhecidamente diferente para alguns. Se
não estávamos em condições mais ou menos equitativas e equidistantes uns dos
outros porque não se definiram objetivos intermédios para alguns países da UE? Porque
não definir objetivos que “obrigassem” os estados membros mais “avançados” a
prestar assistência e orientação aos seus congéneres?

Dale (2009) defende um Espaço
Europeu de educação assente em políticas educativas comuns que respondam
assertivamente, às mudanças globais da sociedade de hoje e respondam às
necessidades particulares e locais dos estados membros. O autor identifica um conjunto
de transformações que têm vindo a ocorrer ao longo das últimas décadas,
nomeadamente:
1) mudanças no contexto
político-económico mais abrangente .
2)mudanças na ‘arquitectura’ dos
sistemas educativos.
3) mudanças quanto à ‘capacidade’
(concepções sobre o que é factível) e ‘mandato’ (concepções sobre o que
desejável) dos sistemas educativos.
4) mudanças quanto ao valor atribuído ao
contributo dos sistemas educativos para a satisfação das exigências criadas por
estas alterações de contexto.
Ora as necessidades
particulares e locais dos estados membros têm ocasionado o surgimento
de novas inquietações no que diz respeito à educação, aos modelos em que esta é
“oferecida” ou “vendida” e à maneira como os governos orientam, fiscalizam e
estimulam este novo mercado que pretende essencialmente aproximar o sistema
educativo às necessidades do mercado de trabalho necessário e imediato. Deste
modo a influência das ideias neoliberais fazem-se sentir quer por meio de
múltiplas reformas estruturais, de dimensão e amplitude diferentes, destinadas
a reduzir a intervenção do Estado na provisão e administração do serviço
educativo, quer por meio de crítica ao serviço público estatal e de
“encorajamento do mercado”. Este “encorajamento do mercado” traduz-se,
sobretudo, na subordinação das políticas de educação a uma lógica estritamente
economicista (“globalização”); na importação de valores e património
intelectual (competição, concorrência, excelência etc.) e modelos de gestão
empresarial, como concorrentes prioritários na “modernização” do serviço
público de educação e na promoção de medidas tendentes à sua privatização
(Barroso,2000).
Como referiu a colega Helena Januário, no livro branco “Crescimento, competitividade e emprego” defende-se a necessidade duma maior implicação do setor privado nos sistemas de educação e/ou formação profissional e na formulação das políticas de educação para ter em conta as necessidades do mercado de trabalho e as circunstâncias locais.”
Assiste-se à tentativa de criar mercados ou quase-mercados educativos transformando a ideia de “serviço público” em “serviços para clientes”, onde o “bem comum educativo” para todos é substituído por “bens” diversos, desigualmente acessíveis. Sob a aparência de um mercado único, funcionam diferentes sub mercados onde aos “consumidores” de educação e formação, socialmente diferenciados, são propostos produtos de natureza e qualidade desiguais, além de que estes clientes concorrem à partida a serviços iguais mas com capacidades económicas diferentes para o fazer. O objetivo central não é adequar a educação e o emprego, mas articular o “mercado da educação” com o “mercado de emprego”, nem que para isso seja necessário criar um “mercado dos excluídos” (expressão usada por Dominique Glassman a este propósito).
Como referiu a colega Helena Januário, no livro branco “Crescimento, competitividade e emprego” defende-se a necessidade duma maior implicação do setor privado nos sistemas de educação e/ou formação profissional e na formulação das políticas de educação para ter em conta as necessidades do mercado de trabalho e as circunstâncias locais.”
Assiste-se à tentativa de criar mercados ou quase-mercados educativos transformando a ideia de “serviço público” em “serviços para clientes”, onde o “bem comum educativo” para todos é substituído por “bens” diversos, desigualmente acessíveis. Sob a aparência de um mercado único, funcionam diferentes sub mercados onde aos “consumidores” de educação e formação, socialmente diferenciados, são propostos produtos de natureza e qualidade desiguais, além de que estes clientes concorrem à partida a serviços iguais mas com capacidades económicas diferentes para o fazer. O objetivo central não é adequar a educação e o emprego, mas articular o “mercado da educação” com o “mercado de emprego”, nem que para isso seja necessário criar um “mercado dos excluídos” (expressão usada por Dominique Glassman a este propósito).

Será então, a privatização da educação, o caminho???
Permitam-me transcrever parte do
artigo: A unionização das políticas
educativas no contexto europeu, de Fátima
Marques, Graça Aníbal, Vasco Graça e António Teodoro disponível no link:
http://www.rieoei.org/rie48a04.htm
"De facto as novas
redacções dos artigos relativos à política comercial comum facilitam a
capacidade de actuação da União no comércio internacional, considerada matéria
de exclusiva competência comunitária, e alteram as regras comerciais no que respeita
à educação. Até ao presente, a União só podia estabelecer acordos de comércio
internacional em questões de educação e formação se houvesse unanimidade dos
Estados-membros, mas, com o Tratado de Lisboa, passa a poder celebrar esses
acordos com base numa decisão majoritária do Conselho. A unanimidade agora
apenas é exigível «no domínio do comércio de serviços sociais, educativos e de
saúde, sempre que esses acordos sejam susceptíveis de causar graves
perturbações na organização desses serviços no nível nacional e de prejudicar a
responsabilidade dos Estados-membros de prestarem esses serviços». (Presidência
da Conferência Intergovernamental, 2007). Fica assim significativamente
facilitada a intervenção da União na liberalização internacional da educação.
Mas qual será o sentido da
próxima evolução das questões educativas na ue? Neste artigo evidencia-se que
coexistem tendências contraditórias que tendem por um lado à centralização e ao
reforço da actuação da União na harmonização das políticas educativas,
enquanto, simultaneamente, subsistem nesta área, fortes perspectivas de
privatização e de desregulação."
Então, em que ficamos?
Privatização? Desregulação? Bem
necessário? Estimularia a competição e a educação para a excelência? Ou
alimentaria apenas o mercado dos excluídos? Quem regularia? O quê? Como?

Susan Robertson, professora da
Graduate School of Education da Universidade de Bristol na área da Sociologia
da Educação e coordenadora do Centro para a Globalização, Educação e
Sociedades, entrevistada sobre esta temática responde:
-No futuro a Europa quer
vender bens, mas não são bens quaisquer, de consumo imediato, esses, diz ela,
venderá a China e outros países orientais a baixo custo; a Europa quer vender
"propriedades intelectuais"........por isso diz ela e bem assistimos
a uma caminhada europeia onde se caminha a velocidades fortemente diferentes...chegaremos
ao mesmo tempo?

Finalizando e bem a propósito do
mercado da educação, vejamos no link que a colega Lurdes gentilmente deixou na
nossa aula, que diferenças nos sistemas educativos, que ação privada, que ação
governamental por aí fora…..Que a reflexão seja uma constante……pois trabalho
para a regulação……esse é infindável e pior que isso parece irregulável!!!!……
http://www.youtube.com/watch?v=A9tTHkBqmAE
(1) Construir a Europa através de um Espaço
Europeu de Educação. Rev. Lusófona de Educação, Lisboa, n. 11, 2008 .
Disponível em
<http://www.scielo.gpeari.mctes.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1645-72502008000100002&lng=pt&nrm=iso>.
acessos em 28 maio 2012.
(2)DALE, R.. Construir a Europa através de um
Espaço Europeu de Educação. Revista Lusófona de Educação, América do
Norte, 11, Jul. 2009. Disponível em: <http://revistas.ulusofona.pt/index.php/rleducacao/article/view/565>.
Acesso em: 28 Mai. 2012.
Bibliografia:
Almeida, Ana Patrícia (2005)- Os fluxos
escolares dos alunos como analisador dos modos de regulação local do Sistema
Educativo. Lisboa: FPCE (Dissertação de Mestrado). (disponível nos recursos da
u.c.)
Barroso, J.(2005). Políticas Educativas e
Organização Escolar. Lisboa. Universidade Aberta.
Barroso, J.(2005).O Estado e a regulação das
políticas públicas. Educ. Soc., Campinas, vol. 26, n. 92, p. 725-751, Especial
–Out.2005. Disponível em <http:www.cedes.unicamp.br (disponível nos recursos
da u.c.)
http://www.apagina.pt/?aba=7&cat=176&doc=13267&mid=2
Ramos,
Conceição (s/data). Regulação dos Sistemas Educativos – O caso
Português. (disponível nos recursos da u.c.)