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sexta-feira, 6 de abril de 2012


Ora o que será que nos falta para nos situarmos entre os melhores sistemas educacionais da atualidade?


Comecemos pelo próprio conceito de sistema educativo segundo Bartolomeu Santos Varela:





“Entendendo um sistema como um conjunto de elementos organizados para a prossecução do mesmo fim, o sistema educativo pode ser definido como um conjunto integrado de estruturas, meios e acções diversificadas que, por iniciativa e sob a responsabilidade de diferentes instituições e entidades públicas, particulares e cooperativas, concorrem para a realização do direito à educação num dado contexto histórico.

Dito de outro modo, o sistema educativo vem a ser um conjunto de estruturas e instituições educativas que, embora possuam características ou peculiaridades específicas, relacionam-se entre si e com o meio ambiente envolvente de forma integrada e dinâmica, combinando os meios e recursos disponíveis para a realização do objectivo comum que é garantir a realização de um serviço educativo que corresponda, em cada momento histórico, às exigências e demandas de uma sociedade.”




Então vejamos: temos o suporte legal com a Lei de Bases do Sistema Educativo n.º 46/86, de 10 de Outubro http://intranet.uminho.pt/Arquivo/Legislacao/AutonomiaUniversidades/L46-86.pdf que sucintamente pretende:


  -assegurar o direito à educação e à cultura para todas as crianças;

- escolaridade obrigatória alargada para nove anos;

- a formação de todos os jovens para a vida ativa;

- o direito a uma justa e efetiva igualdade de oportunidades;

- a formação de jovens e adultos (ensino recorrente);

- a liberdade de aprender e ensinar;


- a melhoria educativa de toda a população.



A mesma consubstancia os valores que Delors (2000), no relatório que vos deixei anteriormente http://ftp.infoeuropa.eurocid.pt/database/000046001-000047000/000046258.pdf, reiterava, propondo uma educação direcionada para os quatro pilares fundamentais da educação:


- aprender a conhecer

- aprender a fazer

- aprender a viver com os outros

- aprender a ser




Estamos na sociedade da informação em que a mesma informação, além de estar muito mais acessível é debatida e argumentada por tantas vozes, enriquecendo-a, indiscutivelmente. O que parece faltar é a tal sociedade do conhecimento, o tal aumento do rol de indivíduos que sabem gerir, processar, entender e argumentar sobre a tal informação acessível a todos. É esta a diferença. Muitas vezes confundida, a sociedade da informação está ao alcance de quase todos, mas o conhecimento depende do que é feito com essa informação. E isso cabe à sociedade, à família e cabalmente, à escola, ao sistema educativo.


A sociedade de informação pode produzir uma sociedade de

conhecimento... A apropriação da informação é fundamental,

mas não podemos esquecer de um elemento extremamente

importante neste processo de apropriação... O sistema

educativo... A leitura da informação (escrita, visual,..), a

análise dessa informação deve ser submetida a processos de

literacia constantes, senão...

                                                                  Professor António Moreira

 

Assim, na premissa de desenvolver os quatro pilares da educação, sugerir-se-iam a (re)definição de estratégias, objetivos e até de modelos de ensino aprendizagem, na intenção de nos situar mais à frente no ranking dos melhores sistemas educativos e sobretudo conseguirmos situar a nossa população na tal sociedade do conhecimento, culta, informada, formada e transversalmente ativa. Hargreaves (2003:41) dá-nos algumas sugestões:


· Promover uma aprendizagem cognitiva aprofundada

           · Aprender a ensinar de forma diferente da que foram ensinados


           · Empenhar-se numa aprendizagem profissional contínua


           · Trabalhar e aprender em equipas colegiais


           · Tratar os pais como parceiros na aprendizagem


           · Desenvolver a inteligência coletiva e basear-se nela


           · Construir a capacidade de mudança e de risco


           · Estimular a confiança nos processos.



(adaptado de Hargreaves (2003:45)





Referências bibliográficas:

Jacques Delors (2000) Educação um tesouro a descobrir- relatório para a Unesco da

Comissão Internacional sobre Educação para o séc. XXI.

                http://professorvarela.blogspot.pt/2007/03/sistema-educativo-conceito.html

TEMA I: MUTAÇÕES SOCIAIS E SISTEMAS EDUCATIVOS



Hoje é sexta feira Santa. Estava eu, mulher, esposa, trabalhadora e mãe com trinta e seis anos a pensar….há uns bons vinte anos nesta semana da Páscoa, numa sociedade portuguesa maioritariamente católica apostólica e romana, cumpriam-se vários rituais religiosos e transversalmente sociais. Trabalhávamos menos, respeitando as estações da via sacra, o silêncio era prática fortemente obrigada e as eucaristias diárias culminavam com o júbilo do sábado de aleluia.

Mas, que tem isto a ver com as mutações sociais e a educação?

Tudo, digo-vos eu.

Os tempos mudaram, radicalmente, em todos os aspetos. Desde a política, agora orientada por pensamentos e ideais mais efémeros e tendencialmente mais localizados e menos fundamentalistas, até às finanças, claramente concentradas em quatro ou cinco pontos do planeta, passando pela grande descredibilização religiosa oposta ao aparecimento de cada vez mais pequenos grupos autodidatas que proclamam a certa verdade do mundo e do deus. A cultura cresce dentro de cada um a velocidades abismais, no que a conhecimentos diz respeito. Já no que diz respeito ao desenvolvimento da cultura de valores a velocidade tem, tendencialmente diminuído. Princípios como o da solidariedade, amor ao próximo e cidadania têm sido abruptamente repescados como se de um naufrágio se tratasse. O modelo de sociedade já não é mais o tradicional. Já não se conhece obrigatoriamente o srº padre da freguesia, tão pouco o vizinho do terceiro andar.

Na educação, valor estabelecido na sociedade como necessário e responsável pela formação dos indivíduos, os objetivos mudam a cada modelo societal em exercício. E estes parecem correr numa luta desenfreada pela inovação, pelo conhecimento e pela globalização. Os resultados estão à vista: despersonalização dos indivíduos, dos contextos e das sociedades atuais.

  

Se tentarmos, é de fato muito difícil apontar caraterísticas deste ou daquele modelo societal. A famosa era do conhecimento fez e continua a fazer acelerar a tão desejada e ansiosa mudança ao ponto de ser-nos muito complicado acompanhá-la, a todos os níveis.

Visto desta perspetiva a revolução industrial perdeu todos os seus créditos e só tem valor por si e na sua época. Hoje, o trabalho, a terra e o dinheiro que estes gerariam são necessidade extrema de alguns e luxo de outros tantos. Hoje é já possível fazer quase tudo a partir de casa, inclusive trabalhar. É a revolução digital no seu apogeu. Ramos (2007), refere Toffler, (1983): “As novas tecnologias da informação permitem o sonho da democracia electrónica”

A educação, está continuamente a ser influenciada e a influenciar esses modelos societais que se movem em contextos cada vez mais diferentes e efémeros na durabilidade das suas caraterísticas. Como refere Ramos (2007), a educação é resultado da história e determinante do futuro.  

Assim, “os sistemas educativos confrontam-se, hoje, com uma complexidade de problemas com origem no processo de evolução das políticas e na transformação ou manutenção do comportamento das administrações que as suportam, no carácter mutável das sociedades contemporâneas nos aspetos sociais, financeiros, económicos, políticos e culturais e na dificuldade de conceber soluções em contextos de incerteza permanente.” (Ramos, 2007)



Então como lidar com isto? Que sistema educativo pode e consegue driblar toda esta complexidade?










Continua.........


             Referências bibliográficas:

Ramos, C. - Tendências evolutivas das sociedades contemporâneas.

Ramos. C (2007)-Sobre o conceito de Sistema.

Ramos. C (2007) – Aspectos contextuais dos Sistemas Educativos.

Lei n.º 46/86 de 14 de Outubro.

Lei nº 85/2009 de 27 de Agosto.

Jacques Delors (2000) Educação um tesouro a descobrir- relatório para a Unesco da

Comissão Internacional sobre Educação para o séc. XXI.

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